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HomeBrasilNa luta contra o fogo, brigadistas enfrentam dor e medo. Veja relatos

Na luta contra o fogo, brigadistas enfrentam dor e medo. Veja relatos

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O Brasil está vivendo o drama do avanço dos incêndios florestais, sendo os biomas do Cerrado, Amazônia e Pantanal os mais devastados. Na linha de combate ao fogo, estão os brigadistas, sendo os voluntários ou aqueles contratados pelo governo. Um trabalho difícil e perigoso que consiste em salvar as florestas da região onde vivem.

Dados do sistema de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que, de 1º de janeiro a 26 de setembro de 2024, foram detectados 206.550 focos de calor no Brasil, uma alta de 93% em comparação com o mesmo período do ano passado.

Lucas Alves Maia, supervisor de brigadas de Goiás, do Prevfogo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), trabalha no combate ao fogo há oito anos na região da Chapada dos Veadeiros.

“Quando eu iniciei, em 2016, dificilmente a gente conseguia ter incêndio na época de junho, maio. O clima estava bem diferente. Então, hoje a gente tem umas queimas prescritas, que a gente faz no início da temporada para poder ter aquela redução da biomassa no local que tem muitos anos que não tem a prática do uso do fogo”, relata Lucas.

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Lucas começou como brigadista e atualmente é supervisor de brigadas e instrutor de brigadas

Arquivo pessoal

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Lucas trabalha no combate as chamas na Chapada dos Veadeiros

Arquivo pessoal

O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros sofre com um novo incêndio florestal no município de Alto Paraíso de Goiás. O primeiro grande incêndio deste mês na região durou seis dias e só foi controlado em 11 de setembro, graças ao trabalho dos brigadistas do Ibama, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Corpo de Bombeiros.

Com o avanço das chamas em Goiás, Lucas conta que um dos principais medos dele durante o combate é com a virada do fogo. “Estamos na linha combatendo, vento está o contrário, do nada o vento vira e joga a chama para cima da gente. Temos que nos retirar rápido e deixar o fogo andar, até o vento acalmar.”

Durante o combate mais intenso ao fogo, Lucas conta que costuma sentir dores de cabeça, mas que realiza exames frequentemente para acompanhar a saúde, visto que está exposto durante o combate aos incêndios. “Por enquanto está tranquilo, graças a Deus. A gente toma muito cuidado, porque a gente se preocupa muito em questão de utilização de EPIS, cuidado e segurança.”

O Ibama informou ao Metrópoles que as equipes de brigadas são formadas por 13 a 44 pessoas, organizadas em esquadrões. Os profissionais recebem um salário de R$ 1.412,00, além de benefícios como auxílio alimentação (R$1.000,00), auxílio pré-escolar (R$484,90) , auxílio transporte e adicional de insalubridade (20% do salário).

Mudança no fogo

Francisca Eloide Lima, brigadista voluntária da Brigada de Incêndio Florestal de Alter do Chão no Pará, trabalha em apoio com o Ibama, ICMBio e também com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

“São 16 anos de combate aos incêndios, mas está pior nos últimos momentos, devido às questões climáticas e o índice muito grande de desmatamento e as queimas descontroladas que têm havido no nosso país. Nós tivemos atendendo um chamado da Funai, norte de Mato Grosso, incluindo algumas TIs [Terras Indígenas], e assim, foi meio que apocalíptico, porque a situação lá não é qualquer fumaça, é como se fosse um nevoeiro. São queimas descontroladas, de difícil acesso, de difícil logística”, expõe Francisca.

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Só este, no Mato Grosso do Sul, quase 2 milhões de hectares foram atingidos pelas chamas

Operação Pantanal/Governo MS

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Área atingida por incêndio no Pantanal

Operação Pantanal/Governo MS

Mato Grosso lidera o ranking com número de focos de calor neste ano. De 1º de janeiro a 26 de setembro, foram 45.157 focos, um aumento de 219% em comparação com o mesmo período do ano passado.

O Pantanal, presente no Mato Grosso, registrou alta de 1.475% dos focos de incêndio neste ano. A situação do bioma apresenta uma gravidade semelhante àquela vista em 2020, quando mais de 700 mil hectares foram afetados.

Depois de retornar de Mato Grosso, Francisca Eloide sentiu o corpo reagir à exposição à fumaça e ao fogo. “Tô com o pulmão cansado, com bastante secreção e tosse.”

O Ministério da Saúde alerta que os incêndios florestais são responsáveis pelo aumento de materiais nocivos à saúde no ar. A situação é ainda mais crítica para idosos, gestantes e pessoas com comorbidades, que podem sofrer com doenças respiratórias.

Cuiabá, capital de Mato Grosso, por exemplo, está há alguns dias com o ar considerado “insalubre”, segundo monitoramento internacional da IQAir.

Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, foram contabilizados 3,7 milhões de atendimentos por problemas diretamente ligados às secas e queimadas nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) no Brasil nas últimas semanas.

De volta ao Pará, Francisca Eloide conta que o combate ao fogo nos últimos anos tem ficado ainda mais complicado, em especial pela intensificação das mudanças climáticas.

“Mudanças no comportamento do fogo nos últimos anos foram muitas, muitas mesmo. Aqui na nossa região nós temos enfrentado alguns avanços das queimadas. Foram momentos muito intensos e a dificuldade de controlar essa propagação é muito diferente dos últimos anos. Antes, nós combatíamos numa floresta onde nós tínhamos mais chuvas intensas, onde nós tínhamos uma floresta umedecida e hoje a gente já não pode mais falar disso”, menciona a brigadista voluntária.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou crédito extraordinário no valor de R$ 514 milhões para o combate às queimadas em todo o país. O valor deverá ser utilizado para compra de equipamentos e outras medidas de curto prazo.

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