Com uma estética inspirada nos anos 1960, Sabrina Carpenter dominou o verão norte-americano com o hit Espresso, repleto de referências o estilo bubblegum pop. Enquanto isso, Chappell Roan abraçou a arte drag lançando músicas que usam o humor para falar de gênero e sexualidade. Já Charli XCX conquistou o público com Brat, uma faixa irônica que une o hyperpop à diversão nas pistas de dança.
Apesar de suas sonoridades distintas, o que une essas três artistas é a leveza e o entretenimento em suas composições – algo que nem sempre esteve em evidência na indústria musical. Nos anos 2010, houve um aumento de músicas mais politizadas e intimistas, muitas vezes focadas em temas como saúde mental.
Atualmente, vivemos uma espécie de “ressaca” desse período, marcando o início de um novo ciclo de pop “solar”, em referência ao álbum Solar Power, de Lorde. É um momento de retomada da diversão, como aponta Thiago Soares, pesquisador do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Música e Cultura Pop da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
“Mas, como tudo na cultura pop, isso gera um esgotamento que faz com que tenha uma parada em músicas politizadas. Elas continuam acontecendo, mas cedem espaço também para uma visão mais humorística e alegre da vida”
Soares também explica que, a partir de 2016, houve uma virada identitária e racial no pop, impulsionada por álbuns como Lemonade, de Beyoncé, que explorava as vivências de uma mulher negra como resposta às políticas extremistas, como as de Donald Trump. “A música pop ficou mais séria, tratando de temas profundos”, ressalta o especialista.
Esse processo foi crucial para o gênero, que muitas vezes era visto como superficial. Temas políticos e sérios eram, historicamente, mais abordados por artistas de rock e rap. No entanto, o pop também tem um legado de engajamento político, como evidenciado por artistas como Madonna, que já no século passado falava sobre sexualidade feminina, direitos LGBTQIAP+ e racismo.
Cenário pós-pandêmico
Há uma relação entre o contexto social e a música, que serve como um registro importante de diferentes períodos. A pandemia, por exemplo, foi marcada por um público mais introspectivo, em grande parte devido ao isolamento e ao lockdown. Com o “novo normal” e o retorno do contato social presencial, as mensagens nas músicas também começaram a mudar.
especialista destaca o impacto de Future Nostalgia, de Dua Lipa, como um dos projetos musicais mais marcantes durante a pandemia. O álbum abraçava uma realidade utópica ao som do pop, funcionando como uma espécie de fuga. “Era uma forma de escape”, afirma.
Outro projeto relevante citado por Soares é Solar Power, de Lorde, lançado em 2021. O álbum se diferencia na discografia da cantora por oferecer uma visão mais otimista da vida e das relações sociais, refletindo uma mudança no tom das produções musicais pós-pandemia.
“Essas de tematizações musicais vão e voltam dentro de um certo espírito do tempo. O espírito do tempo do humor ficou um pouco sobre aviso dentro desse contexto. E agora parece estar de volta. Mas isso dentro de radares de tendência de mercado e também na plataformização que a gente está vivendo hoje, em que as plataformas estão indicando mais músicas desse estilo”, explica Soares, pontuando a influencia dos algoritmos no consumo de música”.