- Advertisement -spot_img
HomeBrasíliaProfessora autista faz diferença no ensino fundamental

Professora autista faz diferença no ensino fundamental

- Advertisement -spot_img

Professora e escola ensinam aos alunos sobre inclusão na prática. Na escola classe 316 sul, no Plano Piloto, uma professora autista nível 2 de suporte, ensina os seus alunos do 4° ano de uma forma que ela mesma queria ter sido ensinada quando criança, com atenção, paciência e empenho particular com cada pequeno indivíduo. Com 37 anos, ela diz que o sistema de educação melhorou muito desde o seu tempo de infância, mas que o esforço focado em cada aluno ainda é algo que depende exclusivamente do professor.

Segundo conta Sara Borges, pedagoga à frente de 18 alunos na faixa dos 10 anos, as aulas a que ela tinha acesso em seu momento de infância transformaram o aprendizado em um momento desestimulante quando não opressivo. Ela se viu constantemente alvo de apelidos pejorativos, como “menina nojenta” e punições físicas, seja dos professores pela falta de didática, ou dos colegas de classe que praticavam as mesmas violências com a colega. “ Eu sofria muito na escola. Muito mesmo. Os professores me batiam porque não tinham paciência, eu já fui expulsa de várias escolas porque diziam que ali não era meu lugar”, disse.

Sara, até os 10 anos, não conseguiu desenvolver a fala, condição comum para pessoas autistas, o que foi interpretado por seus educadores não como a necessidade de lhe proporcionar um acompanhamento especializado, mas como uma espécie de prova de que ela não estava aprendendo. Segundo diz, ela chegou a ser reprovada 3 vezes por conta disso, apesar de ter aprendido exaustivamente a mesma matéria. Chegava a ter crises por saber que reprovaria de novo, apesar de saber mais do que a criança com a nota mais alta.. “Não tinha estrutura. Eu não falava, eu comecei a falar quando eu tinha mais de 10 anos, então não tinha como eu chegar e dizer o que sabia, eu entendia tudo, mas eu não conseguia falar”, afirmou.

Foi por ter tido a ausência de um tratamento digno no passado, algo que se encaixasse em sua realidade que a agora pedagoga quis se voltar ao ensino, para, segundo afirma, ser pelos outros o que nenhum adulto pode ser por ela. Atualmente, desde que o Estatuto da Criança e do Adolescente foi criado em 1990, nenhuma criança pode ser agredida por seus educadores, e, desde 2011, por decisão do Ministério da Educação, nenhuma criança pode reprovar nos 3 primeiros anos do ensino fundamental. Mas a atenção especial, que a pequena Sara ansiava, ainda, é algo que compete mais ao professor, havendo ainda pouca estrutura para que cada criança tenha garantido uma boa qualidade de ensino dadas as suas necessidades e individualidades. Salvo exceções como crianças com deficiência física ou cognitiva. 

Sara considera essencial, pela sua própria experiência enquanto aluna, que um bom educador não tente nivelar todos os estudantes por uma só régua, mas que  veja caso a caso, trabalho que, enxerga como raro. “Os professores são livres, nós temos um cronograma e lá tem tudo o que a gente dá no bimestre. E aí fica a cargo do professor fazer o planejamento de acordo com o que ele achar melhor, o professor tem que arregaçar a manga e fazer algo de olho no individual do aluno, mas infelizmente não é isso que a gente vê no dia a dia das escolas. A gente vê professores que imprimem uma tarefa só para todo mundo. São poucos os que você encontra que fazem coisas mais pontuais, porque isso dá um pouco mais de trabalho”, afirma.

Dispondo da energia, da vontade e da chance de fazer a diferença na vida das crianças que ensina, Sara planeja suas aulas e atividades considerando quatro tipos de perfis dentro da sala: os alunos que têm altas habilidades, alunos que estão na média, alunos abaixo da média e alunos não alfabetizados. Conversando com os pais e explicando o processo das crianças, ela procura fazer dinâmicas apenas desafiadoras o suficiente, nunca muito simples ou muito difíceis, de modo que tanto o aluno com altas habilidades quanto o não alfabetizado se sinta motivado. “É difícil mas não impossível, você só precisa dar um pouco mais de atenção a certos fatos”, diz. “O que me toca muito é lembrar tudo que eu sofri quando era criança, o tanto que eu não pude ter apoio, porque eu tive muita dificuldade mesmo, e muitas crianças reclamavam que o professor tratava todo mundo igual”.

Em suas dinâmicas, ela procura exercitar a criatividade dos pequenos discutindo e apresentando diferenças, em resposta ao bullying que sofreu no passado. “Se apenas uma pessoa está rindo, então não é brincadeira”, costuma dizer. “Eu queria muito quando criança, ser o adulto que eu precisei e eu não tive e hoje eu acho que eu sou esse adulto. Acho que a Sarinha criança tá muito feliz com a Sara adulta”, afirma, por fim.

Segundo a Secretaria de Educação, existem 10.605 estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas escolas da rede pública do DF. Em se tratando do corpo docente, 1.360 professores são Pessoas com Deficiência (PCD). “É importante ressaltar que esses professores passam por avaliação pela Subsecretaria de Segurança e Saúde no Trabalho (SUBSAÚDE),  unidade central de saúde ocupacional dos servidores da administração direta, autárquica e fundacional do Distrito Federal, que realiza perícias médicas e implementa políticas de prevenção e promoção da saúde do servidor”, afirma o órgão.

O post Professora autista faz diferença no ensino fundamental apareceu primeiro em Jornal de Brasília.

- Advertisement -spot_img
- Advertisement -spot_img
Stay Connected
16,985FansLike
2,458FollowersFollow
61,453SubscribersSubscribe
Must Read
- Advertisement -spot_img
Related News
- Advertisement -spot_img