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    Neocomunismo e a escatologização da democracia

    Os “defensores da democracia” não desejam a democracia; eles desejam a utopia progressista. Se essa utopia vier pela democracia, ótimo, um trabalho a menos; mas se o povão insistir em ter valores diferentes, aí parte-se para a censura e para a retirada da liberdade de quem ousar pensar diferente.

    Tudo isso, claro, chamando o autoritarismo deles de “defesa da democracia”, porque assim fica mais fácil de enganar muita gente (além de dar uma saída honrosa àqueles que querem ser enganados e precisam de um álibi para manter a auto-estima diante da própria passividade).

    Precisamos evitar a manipulação que impede as pessoas de terem a opinião certa! E qual a opinião certa? A dos escolarizados urbanos, que hoje compõem a maior parte das lideranças das instituições (academia, mídia, governo, etc) e que foram fanatizados na visão de mundo do progressismo.

    A opinião “certa” do progressismo é a única possível; quem não concorda é porque foi alvo de desinformação, fake news, discurso de ódio etc, e por isso precisamos censurar e controlar o ecossistema de informação.

    Agora, se a desinformação ou a fake news ou o discurso de ódio ou o ataque às instituições vierem do lado progressista, aí pode; porque o que queremos não é verdade, o que queremos não é realmente sanear o debate público, mas sim a submissão de todos ao paraíso terreal progressista.

    Os “defensores da democracia” no Brasil não defendem a democracia de verdade, que é um jogo aberto em que qualquer um pode vencer ou perder, e em que as nossas políticas preferenciais podem ou não serem aprovadas (e mesmo se aprovadas, podem ser revogadas por governos posteriores). Ser democrata de verdade implica aceitar essa intangibilidade e essa imprevisibilidade da democracia.

    Mas a democracia dos “defensores” é diferente. Para eles, a democracia é escatológica, teleológica, ou seja, é uma democracia com fim predeterminado; é um regime predestinado, que deve rumar democracia com fim predeterminado; é um regime predestinado, que deve rumar sempre em direção à realização dos valores progressistas da vanguarda de escolarizados urbanos.

    Como a democracia precisa ser escatológica, como a própria palavra “democracia” confunde-se, no cérebro deles, com progressismo, qualquer desvio de rota faz parecer a eles que há uma crise, um problema, uma “morte” da democracia, e é por isso que a reação deles é sempre hiperbólica, histérica, em pânico.

    Se eles estão certos de que são os mandatários do paraíso terreal, tudo é uma luta maniqueísta existencial do Bem contra o Mal, o fascismo, a extrema-direita! Quem ousar criticar precisa ser censurado porque é um obstáculo ao Bem.

    A democracia, a real democracia, é um jogo em aberto, é uma disputa retórica para transição pacífica de poder; e fazemos assim porque acreditamos que isso reduz concentração de poder, o que por sua vez reduz os riscos de tirania e garante a nossa Liberdade.

    A democracia existe para preservar a nossa Liberdade, e não o contrário. Mas o neocomunista, a mente capturada pela escatologização da democracia, quer acreditar que a nossa liberdade é apenas meio, apenas um instrumento, na sua fúria autoritária para realizar o progressismo.

    Takamoto
    Takamoto
    Fotojornalista, artista marcial, ex-militar, perito criminal.

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